segunda-feira, 5 de março de 2012

A CONDIÇÃO COLONIAL


LITERATURA BRASILEIRA

TODOS OS TEXTOS DE LITERATURA BRASILEIRA QUE ABORDAREI NESTE BLOG SÃO BASEADOS NO LIVRO “HISTÓRIA CONCISA DA LITERATURA BRASILEIRA” DE ALFREDO BOSI.

CAPÍTULO 1

A CONDIÇÃO COLONIAL

Literatura e Situação

    Não se deve buscar estritamente na Europa ou no estilo literário europeu as raízes da literatura brasileira. Embora no inicio da colonização do Brasil os primeiros textos aqui produzidos foram por desbravadores portugueses a gênese da literatura nacional se dá pelas condições que tais portugueses aqui vivenciaram.
    As condições são a chave para entender o elemento primário do conteúdo a ser abordado aqui. As condições incluem em si todas as manifestações de vivência neste solo, ou seja todas as experiências vividas aqui, entre elas o choque com a mata virgem, a interação com sociedades indígenas, o descobrimento das riquezas naturais, o desenvolvimento de regiões isoladas formando assim ilhas de cultura por exemplo: Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, concomitante com a chegada em massa de escravos até chegar ao desenvolvimento ideológico nacionalista que causou as rebeliões contra o governo da metrópole.
    A gênese da literatura brasileira naõ pode ser buscada nos padrões europeus por um motivo simples, lá foi a metrópole e aqui seu lado oposto nesta dialética, a colônia.
    Só após superar a situação colonial é que a classe comercial brasileira pôde ser relativamente livre - relativamente pois nunca foi plenamente livre, uma vez que a produção nacional foi e ainda é voltada para oferecer acima de tudo commodities para demandas do  mercado estrangeiro. Com isso se desenvolveram novas ideologias, que posteriormente se refletiram em novas formas literárias. A gênese da literatura nacional é então  a condição colonial, é sobre ela que abordarei um pouco.
 

Textos Informativos

    Os primeiros textos elaborados no período do descobrimento do Brasil são técnico-informativos, não entram porem na categoria literária, mas entre eles se percebe a visão de mundo de seus escritores, ao descreverem por exemplo a fauna e a flora aparecem lampejos de exaltação ou ao entrar em contato com tribos indigenas há nestes textos forte argumentação a respeito dos valores católicos

A Carta de Caminha.

    Um dos primeiros relatos da história portuguesa no Brasil é a Carta de Pero Vaz de Caminha à D. Manuel, nela esta escrito observações da terra e dos selvagens, o olhar é etnocêntrico e os objetivos são claros, busca por metais preciosos e incutir nas tribos a cultura monoteísta católica.
    Eis um trecho da carta:

“De ponta a ponta é toda praia ... muito chã e muito fremosa (...) Nela até agora não pudemos saber haja ouro nem prata … porém a terra em si é de muito bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Aguas são muitas e infinidas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo borm bem das águas que tem , porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.”


Gândavo

    Outro português católico e desbravador foi Pero de Magalhães Gândavo deixou interessantes relatos sobre o Brasil, entre eles o desejo de encontrar as sonhadas minas de riqueza, a justificação ideológica de sua vinda para a disseminação do catolicismo, o olhar etnocêntrico sobre as populações nativas, entre alguns relatos da flora local como este:


“  Esta planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas folhas que serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita dela se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos e criam-se em cachos. (...) Esta fruita é mui saborosa, e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo (ainda que mais dura) a qual lhe lançam fora qdo. a querem comer: mas faz dano à saúde e causa fevre a quem se desmanda nela”.





O Tratado de Gabriel Soares

        Gabriel Soares foi outro grande crônista da situação colonial, com textos que variam  entre a admiraçaõ e a descrição objetiva Soares apresenta minuciosamente detalhes da fauna e da flora, bem como uma rica descrição dos rituais indigenas, como a couvade, o xamanismo entre outros, com o intuito de manter a metrópole informada a respeito das buscas por minerais faz uma descrição geo-histórica do litoral brasileiro.



A Informação dos Jesuítas

        Junto aos ambiciosos desbravadores sedentos por encontrar riquezas - desejo sem o qual não viriam a esta terra - vieram também os jesuítas com pregação ideológica cristã, seus textos também foram muito importantes para entender aquela época.
        Entre eles o que deixou maior contribuição foi sem dúvida José de Anchieta, sua atividade foi de ensinamento do culto e crença católica aos indigenas, logo seus textos são pedagógicos variando entre o idioma tupi e o português, dependendo o grau de compreensão  e instrução de seu público.

Os “Dialogos das Grandezas do Brasil”.

        Uma das primeiras riquezas natuais a serem exploradas nas terras brasileiras foi o açucar, a produção econômica rendeu textos que abordavam o assunto. As riquezas da terra resultaram entre varios escritos um em especial “Dialogos das Grandezas do Brasil”, do qual retirei o seguinte trecho:


 
"Pelo que, começando, digo que as riquezas do Brasil consistem em seis coisas, com as quais seus povoadores se fazem ricos, que são estas: a primeira a lavoura do açucar, a segunda a mercancia, a terceira o pau que chamam Brasil, a quarta os algodões e madeiras, a quinta a lavoura de mantimentos, a sexta e última a criação de gados. De todas estas coisas o principal nervo e substância da riqueza da terra é a lavoura de açucares.”


    Esta perspectiva é interessante pois resulta na visão do colono, novas condições existenciais lhe são impostas, ele agora se vê em uma nova terra, inserido em alguma atividade econômica particular, própria do lugar e período, os colonos agora vão se reconhecendo como colonos, não mais como homens da metrópole. Tal posicionamento levará posteriormente a um confronto com a metrópole que culmina na independência do Brasil, mesmo que por vias não revolucionárias.

2 comentários:

  1. Bom Dia;
    Os textos produzidos no século XVI sobre o Brasil ou quaisquer outras colonias não são apenas textos meramente informativos como afirma o autor. Além disso, o conceito de Literatura aplicada ao período distoa do que as ëscolas literárias" apregoam. O conceito passa pela idéia de Beletrismo, portanto, é imperioso desmitificar que esses textos sejam preâmbulos para uma literatura nacional. A ideia de Literatura ja havia em si mesmo. Para melhores esclarecimentos cf. A Fenix Renascida e o Posilhao de Apolo, especialmente o prefácio feito pelo Prof. Dr. Joao Adolfo Hansen, outros estudos sao importantes tb como o do Prof. Dr. Alcir Pécora, por exemplo, O Teatro do Sacramento. Grato. Alexandre Jose Barboza da Costa.

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    1. A apresentação que fiz se baseia na visão de um especialista no assunto, Alfredo Bosi, mas claro toda unanimidade é burra. Então obrigado pela sua contribuição.

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